O que não te contam sobre os dividendos

André Falcão, CGA
Economista
24/7/2022

Quando o assunto é o mercado de ações, as empresas boas pagadoras de dividendos costumam estar entre as preferidas dos investidores iniciantes, e até de alguns mais experientes. Afinal, será mesmo que investir nesse tipo de empresa é uma boa estratégia?

Neste artigo abordaremos algumas questões essenciais para responder se investir com base nos dividendos vale ou não a pena. Ao final do artigo você irá entender sobre:

O que são os dividendos?

Ao comprar uma ação o investidor se torna sócio da empresa, e como tal, ele possui o direito a receber uma participação nos lucros. Dito isso, os dividendos nada mais são que a distribuição dos lucros da empresa proporcional a quantidade de ações que o investidor possui.

Geralmente, os investidores costumam buscar empresas que pagam bons dividendos por entender que elas são uma boa forma de obter renda dos seus investimentos. Além disso, acreditam que esse tipo de empresa é mais segura que as demais por conseguir remunerar seus acionistas.

Essas conclusões não estão erradas, contudo, existem outros fatores que devem ser ponderados na hora de decidir virar sócio desse tipo de empresa.

O que acontece com a cotação no momento do pagamento de dividendos?

Um erro comum cometido por alguns investidores iniciantes é a compra de ações após o anúncio de pagamento de dividendos. Por exemplo, uma empresa pode anunciar que pagará 1 real de dividendos daqui a X dias, sabendo disso, o investidor pensa que lucrará 1 real se comprar a ação hoje – Não funciona bem assim.

Ao realizar o pagamento de dividendos, o preço da ação é descontado em igual montante dos dividendos pagos. A ação passa a ser negociada na bolsa como ex-dividendos. Ou seja, na prática, não existe ganho patrimonial para o acionista no recebimento de dividendos. A vantagem seria apenas em receber o dinheiro em caixa sem precisar realizar nenhuma venda.

Ao consultar gráficos de ações, a maioria dos provedores já informa o histórico de preços ajustados para dividendos. Ou seja, quando você consulta o gráfico da ação na sua corretora, ou na internet, é provável que você visualize a rentabilidade sem considerar o pagamento de dividendos.

Os dividendos são necessários para obter renda passiva?

Apesar de serem uma boa forma para obtenção de renda passiva, já que remuneram o investidor sem a incidência de impostos,  existem outras formas de obter renda para quem quer viver dos seus investimentos. 

Na verdade, uma das melhores soluções é manter uma carteira diversificada em que os resgates necessários para as despesas mensais venham da alocação em liquidez. Dessa forma, o investidor não precisa alocar grande parte do patrimônio apenas em ações ou FIIs para receber dividendos regulares, o que faz muitas vezes com que o investidor fique mais exposto que o recomendado para o seu perfil em ativos de renda variável.

Exemplo: Imagine que você quer obter uma receita de R$ 5.000 mensais e conte com uma carteira de R$ 1.000.000 em ativos financeiros. Você preferiria alocar todo o dinheiro em ações que pagam dividendos e ficar sujeito a variações no mercado? Não seria melhor montar uma carteira diversificada considerando um planejamento de R$ 60.000 para serem resgatados ao longo do ano?

Ou seja, esse tipo de estratégia permite uma alocação mais coerente ao perfil do investidor do que apenas alocar o necessário para renda passiva em empresas boas pagadoras de dividendos. Além de permitir, para a parcela de renda variável, a busca por empresas e ativos com maior potencial de longo prazo, focando em crescimento patrimonial e não em empresas já estabilizadas que redistribuem a maioria de seus lucros por não terem opção de crescer.

A estratégia citada acima, é claro, exige rebalanceamento periódico para compensar os resgates realizados. Mas, pode ser uma alternativa mais eficiente, ainda mais em um possível cenário à frente em que dividendos para ações poderão ser tributados.

A possível cobrança de dividendos na reforma tributária vai acabar com a atratividade das ações?

Caso um tributo sobre dividendos seja aprovado, de fato, será uma má notícia para os investidores do mercado de ações. Mas, pagar dividendos altos não é indicativo de uma empresa de alto potencial. A reforma tributária afeta principalmente empresas com a característica de serem boas pagadoras de dividendos. Empresas focadas em crescimento e não em distribuição de lucros devem ser pouco afetadas por essa mudança.

Vale lembrar ainda que existem alternativas que as empresas podem adotar para evitar o pagamento de imposto sobre dividendos. Como a recompra de ações, prática que é muito comum para as empresas americanas. Nos EUA, o imposto sobre dividendos já é realidade há algum tempo e através da recompra de ações e o posterior cancelamento das mesmas a empresa incentiva o aumento da cotação de suas ações, o que também é uma forma de remunerar o investidor.

Afinal, investir em empresas pagadoras de dividendos vale a pena?

O investimento em empresas que pagam bons dividendos pode ser uma boa estratégia passiva. Ou seja, para quem não quer perder muito tempo selecionando empresas para investir, o critério dividendos acaba sendo eficiente em eliminar empresas ruins. Isso acontece porque para pagar dividendos a empresa precisa, como condição necessário, gerar lucros. Essas empresas provavelmente terão uma consistência em seus resultados ao longo do tempo, já que estão distribuindo uma parcela relevante dos lucros. 

Mas perceba, empresas desse tipo não se tornam bons investimentos por pagarem altos dividendos e sim pelas suas outras características, como a lucratividade e a consistência. Tendo isso em vista, selecionar empresas com base apenas nos dividendos pode não ser a melhor estratégia.

Vamos a um exemplo prático, no caso abaixo simulamos duas empresas com características idênticas em que a única diferença está no fato de que na Empresa A o payout (% de lucros distribuídos) é de 15% - mínimo permitido no Brasil - enquanto na Empresa B o payout é de 80%. Ou seja, a empresa B redistribui uma maior parcela de seus lucros para o acionista

Premissas para as duas empresas:

Evolução patrimonial do investimento inicial de R$ 10.000 em 15 anos:

Exemplo comparativo de duas empresas que distribuem 25% e 80% dos seus lucros | Elaboração interna 2022

Apenas a diferença em empresas com indicadores idênticos faz com que o patrimônio do acionista cresça muito mais para a empresa que pagou menos dividendos e reinvestiu seus lucros a taxa de 15% (seu ROE), mesmo considerando que os dividendos recebidos são reinvestidos na empresa pela acionista.

Isso acontece porque a empresa, ao pagar dividendos, diminuiu seu patrimônio, portanto, a sua possibilidade de obter maiores lucros (em valores absolutos) através do retorno sobre seu patrimônio (ROE). O reinvestimento dos dividendos não aumenta o patrimônio da empresa, já que, na maioria das vezes, será realizado com a compra de ações no mercado secundário.

O ponto é que se uma empresa possui boa rentabilidade e visualiza espaço para crescer no longo prazo deveria priorizar o reinvestimento e não a remuneração dos seus acionistas. O acionista dificilmente conseguirá um investimento com uma taxa melhor de retorno do que uma empresa de alto potencial. Afinal, por que ele teria investido nela para começar se houvesse uma opção melhor? 

Mas vale deixar claro, o objetivo é apenas exemplificar o efeito do não pagamento de dividendos e reinvestimento da própria empresa. Há uma premissa muito forte nesses cálculos de que a empresa manterá constante seu retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) e sabemos que, à medida que a empresa cresce, é mais difícil manter esse desempenho. 

Conclusão

Empresas boas pagadoras de dividendos podem ter características como maior resiliência e previsibilidade, podendo ser uma boa forma de investimento passivo. Mas o mais importante na hora de escolher uma empresa são as suas perspectivas de lucro. Esse lucro pode retornar ao acionista não só através dos dividendos mas também pela valorização das ações. Para o investidor que ainda está acumulando patrimônio, por exemplo, a escolha ativa de empresas de alto potencial e que reinvestem a maior parte dos seus lucros tendem a oferecer uma maior possibilidade de retorno no longo prazo.

Quanto às estratégias de renda passiva através de dividendos, essas também podem ser superadas, quanto a aderência ao perfil de risco do investidor, por uma alocação diversificada destinando uma parte do patrimônio para as necessidades de caixa e controlando a exposição em ações conforme a capacidade de risco do investidor.

Na Múltiplos te ajudamos a elaborar a estratégia de investimentos mais adequada para os seus objetivos.

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