Panorama do Mercado - Fevereiro 2024

André Falcão, CGA
Economista
15/2/2024

Neste mês, o panorama inclui os seguintes tópicos:

Recessão Cancelada nos EUA?

No início de 2023, a recessão era considerada uma certeza iminente nos Estados Unidos, com uma série de indicadores ecoando sinais de alerta. Movimentos rápidos de alta de juros e a inversão da curva de juros de curto prazo em relação a de longo prazo, um indicador historicamente preciso na previsão de recessões anteriores, contribuíram para essa visão pessimista. No entanto, a economia americana surpreendeu, e tem se mantido resiliente até o momento 

Essa redução do risco é uma notícia positiva, embora a dicotomia persista: uma economia forte pode limitar o espaço do FED (Banco Central Americano) para cortar os juros, dada a preocupação com o potencial retorno da inflação caso a economia se mantenha aquecida.

O FED continua em uma posição desafiadora, enfrentando o dilema de equilibrar o estímulo econômico com o controle da inflação. Cortar os juros poderia estimular excessivamente a economia, aumentando o risco de inflação descontrolada. Por outro lado, manter os juros altos por mais tempo poderia conter a inflação, mas também poderia aumentar o risco de uma recessão mais severa.

A dificuldade de leitura do cenário à frente tem sido refletida nas projeções dos grandes bancos internacionais. Alguns estão otimistas, prevendo um risco baixo de recessão e a continuidade do bom desempenho das ações americanas ou estabilidade de preços, como o Goldman Sachs e o Deutsche Bank. Outros, como o JP Morgan, veem a recessão com iminente, prevendo uma queda de cerca de 20% no mercado de ações americano me 2024.

TabelaDescrição gerada automaticamente
Figura 1: Projeções dos Grandes Bancos para recessão, SP500 e juros de 10 anos ao final de 2024

Sem dúvida, o cenário de um "pouso suave", onde a inflação é controlada e os juros caem sem prejudicar a economia, seria o mais favorável para todos os envolvidos, inclusive o Brasil, que poderia se beneficiar com uma redução adicional da taxa SELIC.

O risco de uma recessão mais severa diminuiu, mas não desapareceu completamente, é preciso está preparado para o pior cenário. Portanto, a diversificação continua sendo uma estratégia prudente. 

Matemos a posição comunicada no início de dezembro para investimentos no exterior. Uma carteira diversificada em renda fixa em dólar, que ainda oferece taxas atrativas, e ETFs de ações, nos parece a mais adequada para mitigar esses riscos.

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Conflito no Oriente Médio: Desdobramentos Atuais e Implicações Econômicas

No início do conflito entre Israel e o Hamas, o principal temor era sua expansão para outras partes do Oriente Médio, saindo da região de Israel e Gaza. Infelizmente, essa preocupação se concretizou, com o conflito se espalhando para além dessas fronteiras. Um exemplo claro disso são os ataques no Canal de Suez, em retaliação aos conflitos na Palestina. Esses ataques têm causado um aumento significativo nos preços do frete global, impactando diretamente o comércio internacional e a economia mundial.

A escalada da violência no Mar Vermelho resultou em um aumento de aproximadamente 121% nos custos globais de frete de contêineres, que haviam se estabilizado recentemente após os impactos da pandemia e dos conflitos na região entre Rússia e Ucrânia. Esse aumento nos preços de transporte amplia as pressões inflacionárias em escala global, complicando o trabalho dos bancos centrais na contenção da inflação. 

Agora, os navios estão sendo obrigados a desviar rotas, contornando o continente africano, o que eleva os custos operacionais e prolonga os tempos de navegação. Isso afeta diretamente o comércio internacional e pode resultar em produtos mais dispendiosos, especialmente os provenientes da Ásia com destino às Américas e à Europa.

Figura 2: Índice de preços de frete marítimos de containers

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Déficit de R$230 bi do governo federal em 2023: Quais as consequências?

O Brasil enfrentou um cenário fiscal desafiador em 2023, com um déficit recorde de 230 bilhões de reais. Inicialmente, as estimativas eram muito mais otimistas, com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevendo um déficit de 100 bilhões e o Tesouro Nacional estimando 177 bilhões. No entanto, essas previsões mostraram-se subestimadas, destacando a gravidade da situação fiscal do país

Uma parte significativa desse déficit pode ser atribuída a despesas não pagas pelo governo anterior, em 2022. Entre essas despesas estão os precatórios e as indenizações a estados e municípios devido à redução do ICMS. Essas despesas postergadas foram chamadas pelo Ministro Haddad de "calote" que o governo atual optou por quitar.

Segundo Haddad, cerca de metade do déficit total corresponde a pagamentos atrasados que foram honrados por sua gestão, visando remover esse passivo das estatísticas. Contudo, a média de pagamento de precatórios nos últimos anos tem sido de 60 bilhões de reais, enquanto em 2023 atingiu 97 bilhões. 

Sem dúvidas, esse aumento foi impactado pelo não pagamento em 2022, porém, justificar que 100 bilhões deveriam ser desconsiderados do déficit parece exagero.

Em suma, o governo tem adotado a filosofia de gastar para estimular o crescimento econômico, uma estratégia que levanta preocupações. O Brasil tem uma margem limitada no campo fiscal, o que significa que um aumento nos gastos públicos pode levar a problemas como dívida pública elevada, inflação e taxas de juros mais altas.

 É essencial que o governo alcance suas metas de superávit primário a partir de 2024, preferencialmente sem aumentar a arrecadação de impostos. No entanto, diante do cenário atual e do que aconteceu em 2023, essa perspectiva parece incerta.

Infelizmente, o cenário base parece ser o de mais um déficit em 2024, embora menor que em 2023. Esse cenário sinaliza que é muito provável que tenhamos aumento de carga tributária com a continuidade das discussões sobre a reforma tributária sobre consumo e renda, já que não há movimentos em direção ao corte de gastos.

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Pacote de Apoio à Indústria no Brasil

O governo brasileiro recentemente anunciou seu plano de estímulo à indústria, denominado Nova Indústria Brasil, com um investimento previsto de até 300 bilhões de reais entre 2024 e 2026..

No entanto, é importante analisar criticamente essa abordagem e considerar os riscos associados a essa filosofia de "gastar para crescer". O Brasil enfrenta desafios significativos em seu cenário fiscal, com um déficit recorde em 2023 e projeções incertas para os anos seguintes.

Pelo menos a princípio, a maior parte dos recursos será do próprio banco, o que mitiga o risco fiscal. Contudo, no passado, o BNDES era frequentemente financiado em grande parte pelo Tesouro Nacional. Se essa prática se repetir, poderemos enfrentar um problema sério com a dívida pública, dado o volume de cifras do pacote. O aumento dos gastos do governo sem uma fonte sustentável de financiamento pode contribuir para aumento da dívida, aumentando os desafios fiscais do país.

O anúncio do Pacote de Apoio à Indústria reflete uma abordagem de intervenção estatal na economia, buscando impulsionar setores específicos e promover o desenvolvimento industrial, semelhante ao que foi feito no governo na década de 2010.Embora essas medidas possam trazer benefícios de curto prazo é importante haver um controle mais rígido dos gastos públicos para evitar um cenário semelhante ao da crise de 2016.

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