5 Lições de Peter Lynch para você superar os profissionais

Thiago Cardoso
Analista CNPI
1/2/2017

Peter Lynch, durante os 13 anos que esteve à frente do fundo Fidelity Magellan, obteve um retorno médio de 29% ao ano.

Se você tivesse investido $10 mil em 1977 quando Lynch começou as suas operações no Fidelity, você teria, ao final de 13 anos, acumulado $280 mil.

Além disso, Peter Lynch escreveu um dos livros mais simples de ler a respeito do mercado de ações, cujo título é One Up On Wall Street.

#1 Saiba exatamente por que está comprando aquela ação

Uma das frases mais conhecidas de Peter Lynch, que está, inclusive em destaque no nosso Manual do Investidor, é:

Antes de fazer uma compra, você deve ser capaz de explicar por que está comprando.

Imagine que você tivesse que preencher um formulário explicando as suas razões todas as vezes que você fosse comprar uma ação. Por exemplo:

Eu, Thiago Cardoso, estou comprando 400 ações PETR4 por R$2.400, porque __________________________________________________________________________.

Quantos investidores em ações você conhece que seriam capaz de responder a essa simples pergunta?

E qual a chance de sucesso que você acha que uma pessoa tem quando não é capaz de simplesmente explicar por que está comprando uma empresa?

Pois é. Esse é o principal motivo pelo qual as pessoas falham no investimento em ações.

Warren Buffett vai um pouco além. Em vez de explicar por que você está pagando um preço pelas ações, você deve ser capaz de explicar por que você está pagando aquele preço pela empresa inteira. Por exemplo:

Eu, Thiago Cardoso, estou comprando Petrobrás por R$150 bilhões, porque _______________________________________________________________________.

Notou a diferença de impacto?

No primeiro caso, estávamos falando de R$2.400. Depois passando a falar em R$150 bilhões. O negócio ficou bem mais sério, não acha?

Lembre-se: uma ação não é um bilhete de loteria, mas um título de participação numa sociedade.

Ao comprar uma ação PETR4, você está adquirindo uma participação no lado bom e no lado ruim da Petrobrás. O mesmo é válido para qualquer outra empresa.

Por isso, você precisa saber, no mínimo, explicar por que você está comprando aquela ação.

E há de ser uma justificativa bem racional. Algumas justificativas comuns que eu vejo para a compra de determinadas empresas:

Eu comprei porque caiu

Essa parece uma justificativa racional? Você compraria uma casa caindo aos pedaços simplesmente porque o proprietário baixou o preço de venda pela metade?

As pessoas, muitas vezes, associam o estar barato ao ter caído recentemente. No mercado de ações, não há absolutamente nada que impede uma ação de cair a zero.

Por isso, gostaria de citar Philip Fisher:

O fato de uma ação ter tido uma queda nos últimos meses ou anos não tem qualquer relevância na decisão de comprar ou vender.

A próxima desculpa frequente para investir numa ação é:

Eu comprei porque eu vi na mídia que ia subir.

Sejamos sinceros, você compra qualquer coisa que a mídia indica como bom?

No caso específico de ações, por que você acha que um analista de investimentos iria dar de graça conselhos valiosos sobre como ganhar dinheiro?

Se esses conselhos fossem tão bons assim, eles seriam vendidos, não é?

#2 Conte uma história que até uma criança pode entender

Você já ouviu um ditado:

Você só realmente domina um assunto quando é capaz de explicá-lo a uma criança?

Para Peter Lynch, essa é a mais pura verdade.

Você deve criar uma boa tese de investimentos e explicá-la, de preferência, na forma de uma história. Essa história idealmente deve ter até 3 minutos, ou melhor ainda, 1 minuto é suficiente.

Na Múltiplos, nós aplicamos com frequência esse princípio. Eu sempre faço questão de explicar em curtas histórias por que estamos investindo em determinadas empresas.

Leitura Recomendada: Saiba mais sobre o Método Múltiplos

A história também é importante para definir o momento certo de vender. Quando a história deixar de ser verdadeira, está na hora de se livrar do investimento. Simples assim.

Já imaginou o que aconteceria se o seu racional de investimentos dependesse de cálculos complexos? Você teria que refazer os cálculos a todo momento, com altas probabilidades de erro, para saber se deve manter ou se livrar do investimento.

E como encontrar essas boas histórias?

Para Lynch, o investidor é, antes de tudo, um observador.

“Depois de anos comprando máquinas fotográficas, você já sabe o que é bom e o que não é.”

Lynch defendia que as pessoas comuns têm grandes vantagens sobre os analistas de Wall Street. O motivo é que esses analistas passam o dia lendo relatórios e analisando balanços. Porém, as boas empresas devem ser pesquisadas no dia-a-dia.

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#3 Invista naquilo que você conhece

Hoje em dia, esse princípio se tornou tão intuitivo que as pessoas o aplicam de forma errada.

Segundo Lynch, se você vai a um café e percebeu que ele está ficando cada vez mais lotado e abrindo novas lojas, pode ser uma oportunidade de compra. E o melhor: muito antes de qualquer analista de Wall Street perceber.

Certa vez, como falado nesse artigo, Peter Lynch explicou por que investia em empresas, como Apple e Dunkin’ Donuts:

“Meus filhos têm os computadores em casa e o gerente de sistemas da empresa comprou vários para o escritório. E eu adoro o café do Dunkin’.

Porém, esse artigo do Buy and Hold nos lembra: “não importa o quanto você adora café com leite desnatado, ainda é preciso analisar os balanços da Starbucks e certificar de que suas ações não estão muito mais caras que seu café.”

Realmente, você pode adorar um determinado produto. Mas, se a empresa não fizer bem a sua lição, ela jamais vai ser um bom investimento. Além disso, se muita gente tiver feito o mesmo exercício que você, as ações estarão caras demais, o que também torna o investimento pouco atrativo.

Fale sobre isso com os empregados da Enron ou das empresas X.

Segundo o investidor Lucas Costa:

“Familiaridade gera acomodação. No noticiário de TV, é sempre o vizinho, melhor amigo ou o pai do criminoso que diz, com voz chocada “Mas ele era um cara tão legal”. Isso acontece porque sempre que estamos perto demais de alguém ou de algo, confiamos em nossas crenças, em vez de questioná-las, como fazemos quando confrontamos algo mais remoto. Quanto mais familiar é uma ação, mais provável será ela transformar um investidor em um preguiçoso que pensa não haver necessidade de fazer nenhum dever de casa.”

Peter Lynch, por sua vez, defendia que observar as empresas do dia-a-dia é uma forma de obter informações antes dos analistas.

Você deve observar as empresas e, a seguir, estudar seus balanços e fundamentos. É essa análise criteriosa que vai produzir bons investimentos.

#4 Small-caps têm um potencial de ganho muito superior

Peter Lynch criou o conceito de tenbaggers. As tenbaggers são empresas que multiplicaram por 10 o seu investimento.

Ele sempre procurava por empresas com um alto potencial de retorno ao longo do tempo.

O trabalho de investir é sério e árduo. Por isso, você deve respeitá-lo. Por isso, jamais invista pouco dinheiro ou jamais invista visando a ganhar pouco.

Você deve procurar uma boa oportunidade de negócio e investir uma porção considerável do seu patrimônio, de modo que o resultado daquele investimento possa alterar sua condição de vida no futuro.

E as maiores oportunidades de valorização estão justamente do lado das small-caps.

As small-caps são companhias pequenas, em oposição às blue-chips, que são as maiores empresas da Bolsa.

A grande maioria das pessoas, quando investe, procura por blue-chips, como Petrobrás e Vale. Porém, é justamente do lado das small-caps que estão as maiores oportunidades de valorização.

Você consegue imaginar o Itaú multiplicando por 10 nos próximos anos? O Itaú já possui agências em praticamente toda esquina do Brasil.

Porém, o café da esquina, uma empresa bem menor, pode multiplicar por 10 com muito mais facilidade.

Esse é mais um dos motivos que faz os investidores individuais terem vantagens em relação aos grandes fundos de investimentos.

Justamente por serem grandes demais, muitas vezes, os fundos não são capazes de investir em companhias menores. E, por isso, eles são forçados a perder as melhores oportunidades.

Por isso, vale muito mais a pena estudar e buscar por companhias pequenas com um maior potencial de valorização.

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#5 A Diversificação em Excesso é um Erro

O próprio Lynch era um investidor bastante diversificado, chegando a possuir 1.200 ações no seu portfólio.

Porém, ele jamais aconselhava um investidor comum, que trabalha das 8h às 18h, fazer o mesmo. Segundo Lynch:

Ter ações é como ter crianças: não se envolva com mais do que o que você consegue lidar.

Se você não é um investidor em tempo integral, não faz sentido imaginar que você é capaz de ler relatórios, balanços e notícias de 50 ou 100 empresas.

Lynch recomenda que o investidor comum acompanhe de 8 a 12 empresas e que possua, no máximo, 5 empresas no seu portfólio.

#6 Ninguém pode prever a política

Atualmente, vemos um grande número de analistas preocupados com a queda do dólar ou com a eleição do presidente americano. Porém, Lynch lembra:

Ninguém pode prever a taxa de juros, os rumos da economia ou do mercado de ações. Concentre-se no que, de fato, está acontecendo com as empresas em que você investe.

O grande problema de ser um analista político é que a cabeça dos governantes é mais volúvel que pluma ao vento. Por exemplo, esperava-se de Temer uma forte guinada à direita, com a aprovação da PEC-241. Isso jamais aconteceu, porém, o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles segue com seu ímpeto fazendo reformas que podem consertar o Brasil.

O anterior Ministro Joaquim Levy também tinha a mesma competência e a mesma vontade de fazer reformas econômicas no Brasil, mas sempre foi impedido pela Presidente Dilma. Até quando Michel Temer vai deixar que o seu ministro faça reformas que vão de encontro aos seus próprios interesses na política?

Donald Trump já anunciou que pretende cortar 75% das regulações americanas. Se isso acontecer, seria excelente. Menos burocracia, mais liberdade, mais empreendedorismo. Mas será que vai fazer?

Sempre que eu começo a me questionar a respeito de política, aparecem tantas perguntas sem resposta.

No entanto, podemos simplesmente escolher as empresas que podem ser bem-sucedidas APESAR do governo.

Nós nos afastamos de empresas que precisam do governo. Jamais entramos em empresas que se beneficiam de licitações e regulações, mesmo que sejam legais. Como exemplo, podemos citar a OGX, a Magazine Luiza e a Kroton. Todas essas empresas viram suas ações derretem mais de 50% em poucos meses com o fim dos programas governamentais que as beneficiavam.

Nós preferirmos as empresas que crescem APESAR do governo. Por isso, damos tanto valor a dois fundamentos: lucro e dívidas.

Empresa que gera lucro não vai falir.

Empresa que não tem dívida não vai falir.

Lembre-se que empresas que não tem dívidas não podem falir. (Peter Lynch)

Conclusão

A Arte de Investir é muito simples. Infelizmente, as pessoas que complicam demais.

Tudo o que você precisa fazer é pesquisar boas empresas, estudar a respeito delas e acompanhar o que elas estão fazendo.

Se você tomar decisões conscientes, a sua chance de sucesso no mercado de ações é muito maior.

O investidor não deve se preocupar com nada complexo e que esteja além do seu alcance, como para onde vai a taxa de juros. Faça o simples e tome decisões conscientes.

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