Panorama de Mercado - Setembro de 2021

André Falcão, CGA
Economista
11/10/2021

O relatório de Panorama de Mercado é um resumo elaborado com o intuito de trazer os principais acontecimentos relacionados ao mercado de investimentos. 

A seguir, os principais temas abordados nesse relatório:

No decorrer do relatório, você também encontrará links para as principais notícias vinculadas nessas últimas semanas, caso deseje se aprofundar nos temas citados.

E se você preferir a dinâmica de vídeos, você também pode conferir o vídeo que João Scognamiglio, Planejador de Investimentos na Múltiplos, preparou.

Economia Internacional

As Crises da China

A China continua a afetar negativamente o mercado de investimentos. No relatório passado, falamos sobre as intervenções feitas pelo Partido Comunista Chinês em diversos setores da economia. Em setembro, o destaque ficou para o caso da Evergrande, segunda maior empresa do país do setor imobiliário. A companhia está com risco de dar calote em sua dívida bilionária. 

Já havíamos antecipado o risco de uma crise na China neste artigo, e o setor imobiliário é um dos mais endividados do país. A situação da Evergrande ainda está se desenrolando e, por isso, ainda não há certeza se haverá alguma intervenção por parte do governo, mas o fato é que esse acontecimento coloca em xeque o modelo de desenvolvimento do setor, que envolve grandes dívidas e especulações, inclusive, com a existência de vários prédios novos e abandonados. 

A Figura 1: Capacidade de apartamentos vazios na China(abaixo) mostra a estimativa para esse cenário: os apartamentos vazios da China poderiam atender toda a população da Alemanha (84 milhões de pessoas) e ainda sobraria espaço.

Figura 1: Capacidade de apartamentos vazios na China

Além disso, a China também passa por dificuldades na geração de energia. O país tem como principal fonte energética o carvão, o qual o governo tem colocado restrições visando reduzir os níveis de poluição.

Entretanto, com a retomada da economia global depois dos piores momentos da pandemia, houve aumento da demanda por produtos chineses. Com isso, muitas fábricas tiveram que expandir sua produção, aumentado o consumo de energia. 

Esse aumento de consumo resultou também em um aumento do preço do carvão e racionamento de energia em algumas províncias chinesas. Essa situação, apesar de ter características de curto prazo, pode ser mais um fator negativo para a economia do país.

O ETF XINA11, que replica a bolsa chinesa no Brasil, acumula queda de 14,75% desde o início do ano até o final do mês de setembro de 2021.

Europa também sobre com dificuldades energéticas

Na Europa, a crise energética também tem sua origem na retomada intensa da economia e nos efeitos da acelerada troca da matriz energética que está migrando para energias renováveis. 

Acontece que a geração de energia renovável ficou abaixo do esperado, especialmente devido à falta de ventos na região. Com isso, está havendo uma maior demanda pela energia gerada por gás natural, o que aumentou o custo da conta de luz na região.

O Reino Unido, que recentemente deixou o bloco europeu, além de problemas com energia, também sofre com a falta de caminhoneiros, visto que muitos deles deixaram o país após o Brexit, o que tem gerado impactos na oferta de combustíveis nos postos, por exemplo.

Desarranjo nas cadeias produtivas do Mundo 

Nos relatórios anteriores falamos dos desarranjos nas cadeias produtivas ao redor no mundo e esses problemas ainda não dão sinal de trégua.

Temos, por exemplo, o efeito na produção de semicondutores, que são utilizados, em celulares, computadores e até carros. Esse é um dos grandes motivos que tem feito com que o preço de automóveis dispare no Brasil e no mundo, já que os semicondutores são materiais essenciais para produção dos carros modernos e não há o suficiente deles para atender a demanda.

O que acontece é que durante a pandemia as expectativas com o futuro da economia eram baixíssimas e muitas empresas cortaram a produção e reduziram os pedidos de insumos (como os semicondutores). 

Atualmente, com a retomada intensa do consumo que estava reprimido na pandemia, várias indústrias estão com dificuldades de acompanhar esse aumento de demanda.

Teto de Gastos Ameaçados nos EUA

Os Estados Unidos enfrentam um problema parecido com o brasileiro: o teto de gastos. Assim como no Brasil, há uma trava na legislação americana sobre o limite de gastos do governo, porém, com o excesso de gastos atual, os EUA discutem o aumento ou suspensão desse limite para permitir que o governo americano continue a gastar e honrar com as dívidas já existentes.

O Tappering dos EUA

Ainda sem posição concreta, o possível início do tappering continua no radar dos investidores. Tappering é o termo utilizado para se referir à retirada gradual dos estímulos econômicos. Lembrando que já há tempos o FED (Banco Central Americano) estimula a economia e os mercados atuando diretamente na compra de títulos de dívida no mercado.

Com a inflação em alta e a pandemia arrefecendo, não há motivos para continuar com essa política extremamente agressiva pelo FED. Alguns investidores, no entanto, temem que a redução desses estímulos signifique um mercado mais difícil, já que a liquidez injetada é o que tem ajudado os preços dos ativos a subirem.

Conclusões da Economia Internacional

Temos um cenário de desarranjos econômicos que podem perdurar para o próximo ano e ser mais um fator, além dos estímulos monetários, que faça com que a inflação global permaneça como um problema. 

Informações relevantes nos links a seguir:

Brasil: Economia e Política

Os impactos da economia internacional no Brasil

Uma desaceleração da China pode trazer impactos significativos para o Brasil, já que nosso país tem a China como principal parceiro comercial. Por esse motivo, uma redução do crescimento Chinês pode implicar em desaceleração no Brasil também.

Em setembro, já foi visto uma queda no minério de ferro que está muito relacionado ao setor de construção civil chinês e que afeta empresas como a Vale, aqui do Brasil. Ficaremos atentos aos próximos acontecimentos.

IPCA vs IGPM

Em setembro o IGPM, índice de preços que é bastante utilizado para reajuste de alugueis, apresentou queda de 0,64%, enquanto isso, o IPCA-15, prévia da inflação oficial, apresentou um aumento de 1,14% para o mês. 

Figura 2: Variações mensais do IPCA e IGPM

Essa divergência pode ser explicada pela recente queda do minério de ferro de cerca de 44% nos últimos 3 meses, já que o minério de ferro é um dos mais importantes componentes do IGPM. Essa queda está relacionada a limites de consumo impostos pela China e também aos problemas do setor imobiliário do país, iniciados com a Evergrande, conforme visto anteriormente.

Revisões das Projeções Selic e IPCA 

Mês após mês as projeções da Selic e IPCA para 2021 são revisadas para cima pelos economistas. Atualmente, a projeção para a Selic é encerrar 2021 em 8,25% e o IPCA em 8,40%. Em 2022, a projeção é de Selic em 8,50% e IPCA em 4,10%.

Figura 3: Projeções para Selic IPCA para o Final do 2021 se elevam mês após mês

Aumento da incerteza

Em setembro também tivemos um novo aumento dos índices de incerteza política, econômica e fiscal medidos pela FGV. A turbulência política e o risco fiscal tem sido fatores de receio para os agentes econômicos, o que pode estar por trás do desempenho negativo da bolsa brasileira.

Figura 4: Índices de Certeza Brasil

Atualizações das Reformas

Em setembro pouco se avançou sobre as reformas tributárias e administrativas. Ambas tem recebido críticas de diversos setores da sociedade e parecem estar perdendo a força necessária para serem votadas ainda esse ano, ainda mais com a proximidades das eleições.

Situação Fiscal

Um dos principais motivos para grande receio fiscal que surge no Brasil de tempos em tempos é a falta de segurança e comprometimento do estado para com as estruturas criadas para garantir austeridade.

Exemplo disso é a atual discussão sobre teto de gastos. O teto foi criado para estabelecer limites para os gastos do governo, algo que deveria ser perene para garantir sua efetividade em controlar a dívida pública ao longo do tempo. Porém, temos que sempre que algo “inesperado” surge há a vontade de desrespeitar esse teto.

Como “inesperado” não cito a pandemia, que de fato foi surpresa para todos os governos do mundo, mas sim questões como os precatórios (dívidas judiciais do governo) e o novo programa social, o Auxílio Brasil.  

Ao invés de “furar o teto”, é necessário direcionar melhor os gastos públicos para que, quando haja necessidade arcar com despesas ou programas, como os citados acima, isso seja feito com o orçamento existente e não ao custo de aumento da dívida pública.

Atualmente, continuam indefinidos de onde virão os recursos para o pagamento dos precatórios e essa indefinição causa incerteza para os agentes econômicos.

Informações relevantes nos links a seguir:

Cenário da Pandemia

O Brasil conta com 70,22% da população vacinada com pelo menos uma dose (até 28/09/21). Em setembro, o ritmo da vacinação continuou acelerado. Nessa métrica, estamos à frente dos EUA e da União Europeia, que iniciaram o processo de vacinação com antecedência. 

Figura 5: Percentual da População que Recebeu pelo menos 1 Dose da Vacina

Porém, ainda estamos distantes dos países mais desenvolvidos em termos de população totalmente vacinada, justamente por termos ganhado celeridade na vacinação apenas a partir do 2º trimestre. 

Contudo, temos uma aparente maior aceitação da primeira e segunda doses no Brasil, quando comparado aos EUA, por exemplo, que pouco avançou em termos de população totalmente vacinada no último mês.

Figura 6: Percentual da População Totalmente Vacinada contra a Covid-19.

Observado isso, é possível verificar na Figura 7 que o Brasil continua em um processo de redução no número de casos diários, enquanto Reino Unido e Estados Unidos passam por uma terceira onda da doença. Outro fator que tem gerado maiores dificuldades para esses países é o avanço do variante delta, que tem se mostrado mais transmissível. 

Figura 7: Média Móvel de 7 Dias de Casos de Covid-19 a Cada 1 Milhão de Pessoas

A vacinação parece estar causando efeito em reduzir a mortalidade nesses países, porém os EUA estão em uma alta na média móvel de mortes, e isso têm gerado receios para a população e o mercado, que teme novas restrições à economia.

Figura 8: Média Móvel de 7 Dias das Mortes por Covid-19 a Cada 1 Milhão de Pessoas


Informações relevantes nos links a seguir:


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