Panorama de Mercado - Junho de 2022

André Falcão, CGA
Economista
14/7/2022

Nesse relatório trouxemos nossa avaliação dos principais acontecimentos atuais da economia e mercados nacional e internacional. 

Abordamos nesse artigo os temas:

Cenário Internacional

Cenário Nacional

Cenário Internacional

Estamos nos aproximando de uma recessão?

O manual de economia conceitua recessão como uma queda por, pelo menos, 2 trimestres consecutivos de queda no PIB. Independente da serventia desse conceito, é quase certo que haverá uma queda no PIB americano e europeu entre o final deste ano e 2023, pelo menos é o que tem sido previsto pela maioria dos economistas e analistas do mercado financeiro. 

Já havíamos alertado dos riscos do mercado internacional, especialmente o americano, como pôde ser visto, por exemplo, no relatório de economia internacional que fizemos para os nossos clientes no começo de 2020, antes da pandemia. No entanto, recentemente a situação piorou ainda mais com a grande expansão monetária para combater os efeitos da pandemia, que, na verdade, foi uma injeção de dinheiro quando não havia demanda natural — afinal, as pessoas estavam em isolamento —  combinado a uma oferta deprimida. 

O resultado não podia ser diferente: a maior inflação desde a década de 80. Mais recentemente, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a inflação ganhou mais um combustível com aumento dos preços das commodities.

Figura 1: CPI — índice de inflação americano acumulado de 12 meses

Para conter a inflação, os Bancos Centrais ao redor do mundo iniciaram um processo de alta de suas taxas básicas de juros. O efeito esperado é que, com a retirada de liquidez dos mercados (aumento das vendas de títulos públicos) e a redução do crédito para empresas e famílias (devido aos juros mais caros), haja uma redução na demanda por bens e serviços. Embora isso possa deter a escalada dos preços, também pode provocar uma desaceleração econômica.

Figura 2: Controle da Inflação e seus Efeitos Indesejados

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Qual a função das recessões para a economia?

É importante destacar que a economia anda em ciclos alternando entre crescimento e retração. Ou seja, períodos de recessões são naturais no desenvolvimento da economia e possuem sua utilidade — corrigem exageros e fazem com que os recursos sejam distribuídos de maneira mais eficiente. Em situações de distorções na economia, é natural que os períodos de recessões sejam maiores ou mais agressivos, principalmente porque o preço a ser pago pelas irreverências financeiras será maior. Sendo assim, a recessão tem a sua função para a economia, principalmente as que são mais afetadas por políticas econômicas expansivas.

Ciclos econômicos e os investimentos. Saiba tudo sobre o assunto!
Figura 3: O Ciclo Econômico

Cenário Brasileiro

A recessão chegará ao Brasil?

É bem improvável que a recessão nos Estados Unidos e na Europa não chegue ao Brasil, a discussão tem sido mais sobre a intensidade do que se haverá, já que nosso país não está isolado da economia mundial. Contudo, temos algumas vantagens em relação à situação no exterior:

  1. Já estamos há mais tempo em um ciclo de alta de juro;
  2. Ao contrário do exterior, os ativos brasileiros não apresentaram uma grande sobrevalorização, pelo contrário, a rentabilidade das ações brasileiras não foi atraente nesses últimos 2 anos, enquanto o SP500 passou por uma grande valorização no período;
  3. No geral, temos as ações brasileiras negociadas em múltiplos depreciados em relação às bolsas internacionais.

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PEC 1/2022

Nas últimas semanas o assunto do noticiário político e econômico brasileiro foi a PEC 1/2022, chamada PEC “Kamikaze”, proposta do governo com foco em minimizar os efeitos negativos da alta dos combustíveis, que como visto nos últimos relatórios, é um problema global e não só brasileiro.

O aumento de gastos públicos estimado para a PEC é de R$41,3 bi, daí o apelido de “kamikaze”, sem falar que foi criado um estado de emergência para permitir a aprovação da proposta, abandonando de vez o teto de gastos. O problema da PEC é que aumenta a incerteza fiscal com o País e o resultado pode ser exatamente o oposto do pretendido, só em junho o real se desvalorizou 10% frente ao dólar, o que acaba elevando ainda mais o preço dos produtos no mercado interno.

O CDS brasileiro, uma espécie de seguro contra calote da dívida pública federal negociado no mercado internacional, voltou a patamares vistos durante a pandemia, sinal claro de que o investidor estrangeiro está mais cauteloso com o Brasil.

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Figura 4: CDS (credit default swap) do Brasil em 2022

Esse cenário de aumento do risco fiscal pode incentivar:

  1. a desvalorização do Real; 
  2. uma inflação mais persistente (o oposto do pretendido);
  3. a necessidade de juros mais altos; 
  4. uma dívida pública mais cara.

Ou seja, o trabalho do banco central brasileiro no controle a inflação e da estabilidade do real fica ainda mais difícil nesse contexto. 

Como contraponto, o governo deve utilizar receitas extraordinárias para repor esses custos adicionais, as origens desses recursos seria a privatização da Eletrobras e os dividendos acima do esperado recebido pela União pela Petrobras.  O ponto é se esses benefícios serão encerrados no ano que vem ou se haverá a manutenção dos mesmos, nesse último caso, o impacto fiscal será mais danoso.

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Selic em 2 dígitos – desemprego em queda, por quê?

Em junho, o IBGE divulgou o resultado do desemprego do Brasil, que surpreendeu positivamente o mercado, caindo para 9,8%, um recuo de 1,4%. Um desemprego mais baixo é excelente para a economia, porém, chama atenção o fato de isso acontecer quando estarmos passando por uma política monetária restritiva (juros mais altos) onde é natural esperar que haja uma piora nos dados econômicos.

 

Figura 5: Taxa de Desemprego no Brasil

O motivo para isso é que o aumento de juros leva tempo para impactar a economia real, os reflexos da política do Bacen devem ficar mais claros no segundo semestre. O comportamento da economia e da inflação nos próximos meses serão cruciais para o nosso Banco Central decidir se continuará ou não com o aperto monetário.

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Desempenho do mercado de ações nos últimos meses 

No contexto internacional o cenário é de possibilidade de recessão e queda no mercado acionário. Já no Brasil, temos o aumento do risco fiscal com a PEC “Kamikaze” e a proximidade das eleições. Esses são fatores que aumenta o pessimismo dos investidores locais e também gerado reflexos negativos na rentabilidade dos investidores. O Ibovespa acumula uma rentabilidade de cerca de -20% nos últimos 12 meses.

Figura 6: Rentabilidade do Ibovespa nos últimos 12 meses

Se por um lado, os resultados em rentabilidade são negativos no curto prazo, por outro, existem alguns indícios de que existem boas oportunidades de investimento para os investidores de longo prazo. 

Tomando como exemplo a nossa carteira de ações selecionadas pela Múltiplos. Apesar do aumento no endividamento em 2020, a nossa carteira apresenta uma dívida controlada entre 2021 e 2022, em detrimento da alta de juros e da inflação. Além disso, o indicador de Preço/Lucro (P/L), que dá indícios de quão barata está uma ação em relação a sua geração de lucros, está na sua mínima dos últimos anos. Sob essa ótica as ações estão mais baratas que em 2015, ano que se configurou como uma boa oportunidade de compra, tendo em vista a valorização das empresas até 2019.

Figura 7: Evolução da Dívida e do P/L da Carteira de Ações da Múltiplos

Outro dado interessante é o aumento de programa de recompras nos últimos anos. Isso é um indicativo que muitas das empresas listadas acreditam que suas ações estão sendo negociadas a preços atrativos. Normalmente, ao realizar a recompra de suas ações as empresas retiram dinheiro de seus caixas para adquirir suas próprias ações e posteriormente cancelá-las, aumentando a participação no resultado dos acionistas mais antigos. 

Por fim, outro dado que chama atenção é a entrada de investidores estrangeiros na B3, a bolsa brasileira. O estrangeiro vinha retirando capital dos ativos brasileiros entre 2018 e 2021, mas neste ano já aportou mais de 50 bilhões de reais.

O fato de a bolsa brasileira estar em múltiplos atrativos em relação aos pares internacionais pode ser um dos motivos que explica essa entrada de capital estrangeiro. Apesar da queda no mercado americano, o múltiplo CAPE, uma espécie de P/L ajustado pela inflação, ainda mostra uma grande disparidade entre a bolsa americana, a europeia e a brasileira. Ou seja, o Brasil está com preços atrativos em relação a seu histórico e as bolsas internacionais.

Figura 8: Índice CAPE (P/L ajustado pela inflação)

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Como se posicionar

É importante entender que a economia anda em ciclos e, por mais que seja provável que estejamos passando por um ciclo de baixa, ou uma recessão, não quer dizer que investir tenha deixado de fazer sentido. Pelo contrário, em momentos mais adversos na economia, os investimentos podem ser uma excelente forma de conseguir preservar seu poder de compra.

Enxergamos oportunidades para os investidores de longo prazo, principalmente no mercado de ações, mas vale reforçar a necessidade de investir conforme o seu perfil de risco. Investidores mais arrojados, ou seja, que lidam bem com as oscilações de curto prazo, podem aproveitar o momento para comprar ativos a preços atrativos, pensando na possibilidade de valorização no longo prazo. Já para os investidores com um perfil mais conservador, é natural encarar o momento atual com mais receio, à medida que mantêm uma alocação maior em títulos de renda fixa, com foco em preservação patrimonial e manutenção do poder de compra. 

As oscilações diárias do mercado de renda variável estão causando desconforto para muitas pessoas. É o seu caso? Marque uma conversa com um de nossos planejadores, estamos aqui para te ajudar.

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